Adolescence – Crítica da minissérie






Adolescence (Adolescência), a minissérie britânica que estreou há pouco mais de cinco dias na Netflix, está a dar muito que falar e, após terminar de ver a série, compreendo perfeitamente o porquê. Inclusive, desde que vi o último episódio, quanto mais penso na série, mais incrível esta me parece.

Apesar de estar à espera de outra coisa, no fundo, estar à espera de um pouco mais do mesmo, e de considerar que havia espaço para um melhor desenvolvimento de certos pontos, como, por exemplo, o porquê de Jade acusar o Ryan de ter morto a Katie, ou de ter gostado de ver o julgamento, sendo que aí talvez desse para desenvolver melhor esses pontos, e até mesmo mostrar um pouco mais sobre a Katie e a sua família, a verdade é que, se pararmos para analisar bem todos os episódios, grande parte das respostas que precisávamos são-nos dadas, algumas de forma bastante subtil. Além disso, a série apresenta diferentes perspetivas, todas elas bastante interessantes e até mesmo pouco comuns, por assim dizer. Por isso é que se calhar estava à espera de outra coisa, por estar tão habituada a uma certa estrutura característica a este género de séries. Mas, na verdade, fugiu um pouco ao expectável, e isso, no final, é também umas das coisas que me faz considerar Adolescence uma minissérie tão boa.

Acredito que muita gente pode ter ficado desapontada com o desfecho, e consigo compreender o porquê, mas acho que o que a série nos mostrou já é, por si só, muito bom. Nem que seja pelas diferentes perspetivas que traz. Ainda assim, como já referi anteriormente, considero que tudo o que precisávamos de saber foi sendo respondido ao longo dos três últimos episódios.

No segundo episódio, conhecemos o ambiente escolar onde o Jamie (Owen Cooper) estava inserido. Vemos que os alunos não têm respeito absolutamente nenhum, quer pelos colegas, inclusive o filho do inspetor sofre de bullying a ponto de não querer ir à escola (vemos isso quando, no 1.º episódio, ele mandou um áudio ao pai a dizer que estava indisposto e a perguntar se poderia faltar às aulas), quer pelos professores e funcionários. Os alunos são extremamente mal-educados e vemos o quão difícil é conseguir impor-lhes alguma ordem.

Além disso, é abordado também a questão dos incels. Esta expressão surge da junção das palavras involuntary celibates (celibatários involuntários), sendo usada para descrever homens que, por não conseguirem ter relações com mulheres, acabam por odiá-las e, muitas vezes, fantasiarem a sua morte. Através de uma pesquisa, fiquei a conhecer o caso de Alek Minassian, um canadiano que atropelou, em 2018, um grupo de peões com uma carrinha, matando dez pessoas em Toronto. Pouco antes do ataque, este publicou no Facebook: “A rebelião ‘incel’ já começou!”. Além disso, mencionava Elliot Rodger, um homem que, em 2014, matou seis pessoas a tiro e à facada na Califórnia. Rodger tinha várias publicações nas redes sociais sobre a sua frustração por ser rejeitado e que espalhavam ódio contra as mulheres.

Neste episódio, também é mencionado Andrew Tate, que, para lá dos discursos odiosos, é atualmente acusado de violação e tráfico de mulheres. Mas não precisamos de ir muito longe, basta estar a par do universo dos youtubers portugueses (e não preciso de referir nomes para saberem a quem me estou a referir, inclusive, já houve comparações com o Andrew Tate), que mesmo a fazer e a dizer as piores barbaridades, têm imensos seguidores. Ainda para mais, acredito que grande parte da audiência destes youtubers são adolescentes, da idade do Jamie, por exemplo, que ainda não têm grande maturidade e estão a ser influenciados por pessoas totalmente desprezíveis. E isso é assustador.

O terceiro episódio, foca-se numa sessão do Jamie com uma psicóloga e, para mim, este foi, a par do primeiro, dos melhores episódios da série. Confesso que, no início, pensei que o rapaz fosse mesmo inocente, mesmo depois de ver o vídeo! O facto de ele dizer que não tinha feito nada, aliado com a acusação de Jade no 2.º episódio, fez-me pensar que havia ali mais qualquer coisa. Que talvez pudesse ter sido o Ryan, aliás, eu até os acho meio parecidos, além de que ele confessa que a faca era dele. Ou então que tivesse sido uma coisa combinada entre os três: Jamie, Ryan e Tommy. Mas, ao longo daquela conserva, as minhas dúvidas quanto à culpa do Jamie foram-se dissipando.

A forma como ele tenta manipular a psicóloga, especialmente para que ela gostasse dele, e as coisas que ia dizendo ao longo da sessão, mostraram bem quem é que ele realmente era. Além disso, à mínima coisa que ela dizia que não ia ao encontro do que ele queria ou esperava, ele explodia logo. E isso não aconteceu apenas uma vez. Inclusive, há um momento que ele fica em pé à frente dela, de punhos cerrados, claramente numa tentativa de mostrar dominância, enquanto a psicóloga, sentada, olha para cima. Claramente que Jamie queria mostrar que tinha o poder. É ainda mais assustador quando paramos para pensar que ele tem apenas 13 anos. É impossível não ficar impactada com esta cena.

Quanto ao motivo do crime, acredito que o trigger que levou Jamie a matar Katie foi a rejeição, mais do que os comentários no Instagram. Esta rejeição, além de ter reforçado a ideia do incel, custou ainda mais tendo em conta que ele acreditava que, por Katie estar num momento vulnerável, ela iria aceitar sair com ele. Mas nem mesmo assim ela aceitou. E isso fez com que ele explodisse, e acabasse por a matar.

O episódio quatro, foca-se na família do Jamie, um ano após a sua detenção. Vemos o quão difícil está a ser lidar não só com o facto do filho estar preso e ter cometido um assassinato, mas também as consequências que isso acaba por ter na vida familiar deles, especialmente na forma como são vistos ou tratados. Além disso, vemos também uma tentativa de seguir com uma vida normal, mas que se torna algo extremamente difícil.

Este episódio também acaba por mostrar que o pai de Jamie explode com facilidade, mesmo quando a mulher só o está a tentar ajudar. Embora eu entenda que isso possa ser apenas um reflexo do momento difícil pelo qual está a passar e, por isso, não querer tirar também conclusões precipitadas, senti-me tensa praticamente o episódio todo, só a pensar quando é que ele iria explodir de vez.

Ora, caso esta forma de reagir seja algo consistente, mesmo que inconscientemente, pois acredito que o pai não está bem ciente disso, este tipo de atitude pode também ter influenciado a perceção do Jamie sobre a forma de tratar as mulheres, principalmente tendo em conta a enorme consideração que ele tem pelo pai. Outro detalhe é a chamada que Jamie faz para o pai a dizer que se vai declarar como culpado. Quando se apercebe que a mãe e a irmã também estão presentes, diz logo que tem de desligar, pois há pessoas à espera, mas antes de desligar a chamada, pede apenas desculpa ao pai. É curioso porque toda a família foi afetada pela situação, mas é apenas ao pai que ele dirige o pedido de desculpas.

Através do diálogo dos pais, é percetível o sentimento de culpa, mas também que eles tentaram fazer o melhor que podiam/sabiam, e que nada fazia prever o que iria acontecer. Tenho de confessar que os minutos finais fizeram-me chorar.

Por fim, de destacar o facto dos episódios terem sido gravados de forma excecional em plano-sequência, o que pareceu tornar tudo ainda mais real e, até mesmo, sufocante. Muitos foram os momentos ao longo da temporada em que senti os nervos à flor da pele. Simplesmente incrível!

Podes ver a minissérie Adolescence na sua totalidade na Netflix.

Melhor episódio:

Episódio 3 – Como já referi anteriormente, este foi, sem dúvida, um dos episódios que mais me impactou. À ansiedade, juntou-se também a incredibilidade ao ver o miúdo que eu cheguei a pensar que era inocente e indefeso, a mostrar o mostro que realmente era. É ainda mais assustador se pensarmos que se trata de um rapaz de 13 anos, que matou uma colega à facada. Ainda que se trate de ficção, infelizmente, retrata muitas situações reais.

Personagem de Destaque:

Briony Ariston (Erin Doherty) – Cheguei a ponderar escolher o pai, muito pela incrível atuação de Stephen Graham, mas acabei por decidir destacar a psicóloga. Embora fosse notável o desconforto, manteve-se sempre calma e profissional, mesmo perante as tentativas de intimidação e controlo por parte do adolescente. Além disso, a forma como ia conduzindo a conversa, permitiu-nos perceber, pouco a pouco, o verdadeiro Jamie.

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