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É difícil imaginar Hugh Grant em um papel tão perturbador. Sua carreira foi marcada, principalmente, por papéis carismáticos, sempre com ótima sinergia com a comédia. Agora, em uma nova fase, Herege prova sua versatilidade além do esperado.
Escrito e dirigido por Scott Beck e Bryan Woods, o filme apresenta uma proposta interessante para o terror. Em vez de usar o fanatismo religioso com clichês de sustos medíocres e abordagens rasas, os diretores optaram por um exercício verbal, onde o incômodo surge nas discussões e diálogos muito bem escritos.
Tratar de um tema tão delicado como religião era arriscado, já que as questões levantadas poderiam soar ofensivas ou vazias. No entanto, Beck e Woods demonstram que, com dúvidas e questionamentos, é possível criar um texto inteligente e cheio de suspense, intensificado por Hugh Grant, o qual recita cada fala com mistério e desconforto. Sob sua atuação, as teorias de seu personagem, por mais absurdas, tornam-se estranhamente plausíveis.
O filme narra a história de duas jovens missionárias que, após um longo dia de trabalho, ficam presas na casa de um homem misterioso. Contudo, a figura aparentemente inofensiva revela o oposto ao forçar as jovens a participarem de um jogo perturbador, desafiando a fé e tudo em que acreditam.
Grande parte do filme se passa em um único local, escolha perfeita para a proposta. Se o objetivo é criar horror com diálogos, o ambiente importa pouco. O verdadeiro suspense está nas interações entre o Sr. Reed (Hugh Grant) e as irmãs Paxton (Chloe East) e Barnes (Sophie Thatcher). Em falas rotineiras, o personagem de Grant nos envolve, provocando as crenças das missionárias e tentando levá-las a questionar suas convicções mais profundas.
Não é exagero dizer que a primeira hora de Herege é quase irretocável. O exercício verbal funciona de maneira orgânica, criando um clima tenso com conversas religiosas. O roteiro brinca com nossas emoções, alternando momentos de angústia com piadas inesperadas, gerando o famoso “rir de nervoso”.
Entretanto, após um começo e uma metade bem trabalhados, Herege perde força ao buscar chocar apenas com imagens, em vez de manter os diálogos imersivos. O último ato destoa completamente da narrativa inicial, parecendo desconexo. O desfecho decepciona ao se contentar com o “comum”, especialmente em uma história tão questionadora.
Mesmo com altos e baixos, Herege merece crédito por trazer o horror na simplicidade das falas de um homem aparentemente inofensivo. Hugh Grant é o grande destaque, mostrando que, mesmo em uma fase avançada da carreira, ainda pode surpreender e assustar além do imaginado.
Herege já está em cartaz nos cinemas, com distribuição da Diamond Films.
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