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Monstros: Irmãos Menendez: Assassinos dos Pais | Crítica


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Depois do estrondoso sucesso de Dahmer, a Netflix e Ryan Murphy mais uma vez se reúnem para trazer à vida um dos casos criminais mais perturbadores da história dos Estados Unidos com a segunda temporada da antologia Monster. Intitulada Monstros: Irmãos Menendez: Assassinos dos Pais, a série mergulha fundo no brutal assassinato de José e Mary Louise “Kitty” Menendez, milionários da indústria musical, pelos próprios filhos, Lyle e Erik, em 1989. A trama não se limita apenas ao crime em si, mas se debruça sobre o complexo e disfuncional relacionamento familiar que culminou nesse chocante desfecho. Mais do que um relato sobre violência, a série é uma imersão no caos emocional e psicológico que permeava essa família, tornando cada momento assistido uma análise minuciosa do que significa ser vítima e algoz ao mesmo tempo.

Para os entusiastas de true crime, Monstros: Irmãos Menendez: Assassinos dos Pais é uma obra que respeita os elementos clássicos do gênero, ao mesmo tempo que o reinventa. A produção vai além do entretenimento e constrói um verdadeiro estudo sobre comportamento humano, destacando como traumas e abusos podem convergir para algo trágico e inevitável. Ao longo dos nove episódios, a série mantém um ritmo impecável, alternando entre flashbacks do antes e depois do crime, o que não só contextualiza o espectador sobre os eventos, como também enriquece a experiência ao criar uma narrativa não-linear e, portanto, mais envolvente. O espectador é convidado a montar esse quebra-cabeça emocional, refletindo sobre o impacto devastador que a dinâmica familiar dos Menendez teve em todos os envolvidos.

Um detalhe que se destaca desde o primeiro episódio é a trilha sonora marcante, que inclui as músicas de Milli Vanilli, a dupla pop dos anos 80 que acabou desmascarada em um dos maiores escândalos musicais da época. Esse uso não é apenas um capricho estético, mas um paralelo poderoso com a própria essência da família Menendez. Assim como o Milli Vanilli, que escondia sua verdadeira identidade musical, José e Mary Louise Menendez mantinham uma fachada de perfeição e sucesso, enquanto, na verdade, ocultavam uma verdade bem mais sombria. Esse simbolismo não passa despercebido, e cria uma camada extra de reflexão sobre o que significa viver de aparências, seja na música, seja no seio familiar.

Uma das questões mais intrigantes que pairava sobre a série antes de seu lançamento era a abordagem que Ryan Murphy e Ian Brennan adotariam: eles defenderiam os irmãos ou os pais? A resposta, porém, é inteligente e ambígua. Monstros: Irmãos Menendez: Assassinos dos Pais não toma partido e, de forma brilhante, permite que o espectador decida. A série se apoia em uma vasta pesquisa documental e depoimentos para retratar uma família que, desde o início, parecia condenada à tragédia. José Menendez é mostrado como um homem controlador e despótico, enquanto Mary Louise é retratada como uma esposa submissa, porém distante, que também acaba exercendo um papel opressor sobre os filhos. Essa abordagem, longe de ser maniqueísta, apresenta uma tragédia onde o crime parecia inevitável, independente de quem tomasse a iniciativa.

As atuações de Cooper Koch e Nicholas Alexander Chavez, nos papéis de Lyle e Erik Menendez, são excepcionais. Eles capturam a complexidade dos irmãos, que oscilam entre o perfil de jovens mimados e vítimas de um ciclo de abusos que permanece em aberto. A série provoca o espectador a refletir: será que eles realmente sofreram os abusos que alegam? Ou essa narrativa foi uma construção para justificar um crime tão brutal? A incerteza permeia cada episódio, mantendo o público em suspense e, ao mesmo tempo, proporcionando uma discussão moral e psicológica profunda sobre o que é justiça e o que é vingança.

No entanto, a interpretação que realmente rouba a cena é a de Javier Bardem como José Menendez. Seu retrato de um homem autoritário, cruel e misógino é ao mesmo tempo repulsivo e fascinante. Bardem constrói um personagem que, apesar de seu caráter desprezível, nunca cai na caricatura, e seus embates com os filhos criam algumas das cenas mais tensas e perturbadoras da série. Chloë Sevigny também brilha como Mary Louise, uma mulher subjugada e traumatizada, que, ainda assim, contribui para a corrosão emocional da família, tornando-se quase cúmplice do colapso psicológico dos filhos.

Nos episódios finais, Monstros: Irmãos Menendez: Assassinos dos Pais dá destaque a dois personagens essenciais no julgamento dos irmãos: a advogada de defesa Leslie Abramson, interpretada com firmeza por Ari Graynor, e o jornalista investigativo Dominick Dunne, vivido por Nathan Lane. A presença de Dunne é particularmente interessante, visto que ele próprio sofreu a perda violenta de sua filha, Dominique Dunne, uma atriz assassinada pelo namorado. A série faz questão de conectar essas duas tragédias, mostrando como Abramson, que também trabalhou no caso de Dominique, utilizou argumentos semelhantes para defender os irmãos Menendez. Essa intersecção entre os dois casos cria uma narrativa ainda mais carregada de tensão emocional e reflexões sobre as diferentes formas de violência.

No fim, o que Monstros: Irmãos Menendez: Assassinos dos Pais faz com maestria é levantar questionamentos e não fornecer respostas fáceis. A família Menendez é apresentada como uma entidade corroída desde dentro, onde os papéis de vítimas e algozes se misturam constantemente. A série deixa claro que, independentemente de quem estava certo ou errado, o ambiente familiar estava condenado desde o início, e a tragédia, inevitável.

Com produção impecável, atuações extraordinárias e uma narrativa envolvente, Monstros: Irmãos Menendez: Assassinos dos Pais reafirma que o true crime é um dos gêneros mais poderosos da Netflix. Assim como em Dahmer, a série se destaca pela reconstituição histórica precisa e pela capacidade de trazer à tona questões profundas sobre a natureza humana. Uma série imperdível para quem busca não só entretenimento, mas uma verdadeira reflexão sobre as sombras que habitam até as famílias mais aparentemente perfeitas.

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